Reflexão da Regulamentação da Profissão Médica

Projeto de Lei do nº 268, de 2002

"O médico apenas trata,  à Deus cabe a cura". ( Paré Ambroise, 1510 - 1590,  Médico ).

Academia Francesa de Medicina

Na proximidade da efetivação do "Regulamentação da Profissão Médica"" todos profissionais de saúde colocam-se em reflexão em relação ao futuro da Saúde no Brasil, sabendo-se estar deficitária, com grande parcela da população excluída do sistema de saúde ( Saúde:Direito Constitucional ). A Medicina, há 2400 anos atrás surgia como ciência, num mundo de guerras, fome e doenças. O Pai da Medicina Hipócrates ( 460 - 377ac ), idealizou a Medicina com sacerdócio, na visão missionária, ética, humana e da compaixão. Como profissão de referência, a medicina ampliou seu conhecimento, gerou ciência atrás de ciência, deu fundamento a anatomia, a fisiologia e às doenças.

Árvores onde Hipócrates ensinou seus alunos a arte da Medicina. Estátua da grécia antiga com data do seu nascimento.

Juramento de Hipócrates >>

A partir de 1850 a ciência médica evoluiu em concomitância com a era industrial, surgindo a anestesia, a microscopia, a imunologia e avanços da cirurgia. Para o paciente crítico, surge a figura feminina, competente e dedicada da enfermeira Florence Nightingale que juntou-se aos médicos na árdua missão da cura, oferecendo-lhe assistência, presença e idéias. Na união, juntaram-se na criação da primeira faculdade de enfermagem na Inglaterra, onde médicos dedicaram-se para transmitir o conhecimento de gerações para gerações, contribuindo na formação do primeiro corpo de enfermagem científica.

Médico ensinando equipe de enfermagem - 1890

Médicos 1890 a 1899

Florence amplia o conceito de atendimento, mostrando a necessidade da enfermagem, da vigilância e do cuidar cuidando, dando sua contribuição na idealização das Unidades Críticas, da vigilância e assistência. Há 150 anos atrás, a história pode mostrar a união, o corpo de saúde, a transmissão do conhecimento, a geração da ciência onde profissionais visualizavam a cura intervencionista à assistencial. Iniciamos a era das profissões de saúde, a derivação do conhecimento, a criação de novas ciências.

Florence Nightingale ( 1820 - 1910 ) e Peter Safar ( 1924 - 2003 )

Nos Estados Unidos, Peter Safar transfere à sua profissão médica as suas experiências vividas do holocausto, onde como sobrevivente presenciou as atrocidades e o extermínio do ser humano para com seu semelhante. Verificou na sua pele, na sua mente, no seu espírito a poder do preconceito, da exclusão, da indiferença e do exercício da superioridade entre as pessoas. Safar deu um grande passo à UTI quando em 1950 transforma o Suporte Avançado de Vida, proporcionando sedação, analgesia, assistência ventilatória adequada ao paciente UTI. Nos seus conhecimentos anestésicos, transferiu a seus colegas, empenhou-se na criação da nova especialidade Medicina Intensiva e já neste momento refletia da importância da equipe multidisciplinar, porém acima de tudo com conhecimento.

II Grande Guerra: Enfermeiras servindo no fronte de Batalha - Médico e enfermeiro atendem ferido.

Mas a Medicina entendeu que tão importante como a vida, está a sua qualidade. Surge a ciência da reabilitação, o profissional que assiste, empenha-se para conquistar ou permanecer funções, a ciência chamada fisioterapia mostrou-se necessária. O tempo, como senhor da razão, mostrou a necessidade da interação entre as profissões, na interdependência, na troca de conhecimentos. Nas UTIs, o aumento da complexidade é constante, a responsabilidade do médico aumenta diariamente, ou seja, quanto mais tecnologia, maior o grau de treinamento e estudo. Em número, o médico passa a ser a minoria, e a visão é fantástica quando duas, três até quatro pessoas e profissões empenham-se na conquista de devolver a saúde, de cuidar e de estar com o paciente.

Fisioterapia exerce papel importante na Crise Mundial da Poilomielite

Na sequência da história, da evolução, a medicina mudou. Já conhecemos o médico, sua identidade, sua responsabilidade e inabalável relação com a sociedade e seu paciente. A verdadeira prática da Medicina é sublimada, faz nos sentir humanos, iguais e fraternos. Não cremos na nova geração de médicos sem as demais profissões repletas de conhecimentos e autonomias, na transferência de ensinamentos que auxiliem no bom prognóstico, na análise individualizada da aptidão de cada profissional, nas medidas individualizadas, no respeito a Lei e a Ética que profissionais médicos e não médicos devem obedecer principalmente quando acima da Lei está o ser humano doente sendo incontestável seu direito de acesso ao médico e demais profissionais de saúde e todos qualificados. A Medicina deve servir e não ser servida, deve reconhecer seus deveres e seus quase poucos direitos, dever servir independente de raça, condição social, idade, religião e cor.

Enfermeira Japonesa vítima da Guerra, servindo a marinha Americana. UTI e equipe multidisciplinar em 1952.

O início do ano 2000 tem demonstrado que a humanidade não pode compreender o significado da compaixão e consciência humana, talvez a nós do Corpo de Saúde cabe demonstrar a união, o exercício da amizade, da tolerância e do respeito. Nós médicos estamos no caminho da regulamentação perante a Lei dos Homens, mas já conquistamos a mais importante que está no coração das pessoas. A classe médica orgulha-se em ser a mais lembrada quando e fale de ética em nossa sociedade e isto aumenta nossa responsabilidade. Na sociedade do capital ser ético e imaginável para muitos, mas em muito o somos. Devemos sem dúvida este conceito a todos que participam do nosso diário trabalho, do auxiliar e técnico que higieniza, efetua medicações e faz a limpeza do curativo, também à todos profissionais graduados que trabalham em noites incansáveis e jamais poderão ser vistos por nós médicos como "anônimos", pois sabemos que existem e são fundamentais, imprescindíveis.

Equipe Multidisciplinar na UTI e Transporte AeroMédico

O futuro está aberto e feito apenas por nossas ações. Todos temos responsabilidades no futuro das novas gerações de profissionais. A transmissão da tolerância, da boa relação, do respeito a autonomia de cada profissional e seu espaço, no conhecimento compartilhado e a responsabilidade em tê-lo, deve nortear nossas ações. A Medicina Brasileira terá sabedoria para manter a evolução da história, no ganho quando cada jovem decide-se em cuidar do próximo seja em qualquer  leque da profissão da saúde. "O médico apenas trata, à Deus cabe a cura". ( Ambroise, 1600 - Médico ).

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