UTI   Matéria da 15a edição do COFFITO páginas 37 a 40

 

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O especializando freqüenta todos os setores do hospital, inclusive a câmara de oxigenioterapia hiperbárica

ESPECIALIZAÇÃO PROFISSIONAL EM TERAPIA INTENSIVA

Desenvolvido de forma similar a uma residência, mas com 13 meses de duração (com proposta de ampliação, na próxima turma, para 18 meses) em lugar dos dois anos exigidos pelo COFFITO para o treinamento em serviço, o curso de especialização em Fisioterapia Intensiva oferecido desde o ano passado pelo Hospital Santa Cruz, em São Paulo (SP), através da AMIB Associação de Medicina Intensiva Brasileira e da AFIB - Associação de Fisioterapia Intensiva do Brasil, apresenta diferenciais na prática fisioterapêutica intensiva. O dr. Oséas Florêncio de Moura Filho, conselheiro do COFFITO que examinou o projeto pedagógico do curso, destaca a ênfase do projeto na autonomia profissional, permitindo uma formação que diferencia positivamente o fisioterapeuta na equipe multiprofissional que atua no campo da assistência aos pacientes criticamente doentes: "o perfil do fisioterapeuta intensivista vai além do fisioterapeuta pneumofuncional e do neurofuncional, pela necessidade do conhecimento clinico mais aprofundado exigido pelas necessidades de resoluções de intercorrências mais prevalentes na população alvo".

Em seu parecer, o dr. Oséas Moura lembra que esta formação "permite o desenvolvimento do diagnóstico cinesiológico funcional e de projetos terapêuticos voltados aos pacientes portadores de lesões e/ou doenças graves e instáveis, com grandes flutuações em pequenos intervalos de tempo, satisfazendo às demandas da saúde funcional com eficácia e redução importante de riscos, em uma clientela que apresenta quadros limítrofes". Para o dr. Douglas Ferrari, médico que chefia a Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Santa Cruz (também professor dos cursos de Fisioterapia da Uniban e da UniABC na disciplina de Exames Complementares e responsável pelo departamento médico-científico da AFIB - Associação de Fisioterapia Intensiva Brasileira); "com o crescimento da complexidade, aliado ao desenvolvimento tecnológico na atenção ao paciente criticamente doente, há a necessidade de transformar o profissional, oferecendo-lhe conhecimento teórico e prático para poder oferecer assistência com qualidade e interferir para o bom prognóstico e qualidade pós-internação. A assistência ventilatória do paciente crítico, a monitorização ventilo-respiratória, a prevenção dos efeitos decorrentes do repouso prolongado no leito, assim como a atenção dos distúrbios e lesões musculoesqueléticos, neurofuncionais, metabólicos e cardiovasculares imprimem uma gama de conhecimentos que transcende a Fisioterapia Pneumofuncional" .

O chefe da UTI do Hospital Santa Cruz remernora que as Unidades de Terapia Intensiva são consideradas como serviço especializado de caráter multiprofissional, englobando também o fisioterapeuta e que o Ministério da Saúde, através da Portaria 32/98, exige a presença de fisioterapeutas nas UTls do Tipo II nos turnos da manhã e da tarde e a presença deste profissional 24 horas por dia nas UTls do tipo III (a UTI do hospital Santa Cruz é classificada como de nível II).

Constituído em 1924 corno Sociedade Brasileira e Japonesa de Beneficência no Brasil (Zai Brasil Nipponjin Dojin-Kai), com a finalidade de prestação de assistência a saúde dos primeiros imigrantes japoneses que chegavam ao Brasil, o hospital - previsto desde a criação da associação - só foi inaugurado em 1939. Três anos depois, em decorrência da II Guerra Mundial , sofreu intervenção do governo brasileiro e só retornou à comunidade japonesa em 1990. Hoje, o Hospital Santa Cruz ostenta com orgulho um dos 12 selos de Controle de Qualidade Hospitalar concedidos no estado de S.Paulo e oferece cursos de especialização em Medicina Intensiva, Cirurgia Plástica e, agora, também em Fisioterapia Intensiva. Sua UTI, onde o curso é realizado, conta com 12 leitos na Unidade Geral e 11 leitos na Unidade Coronariana, além de nove leitos para casos neurológicos. A monitoração, contínua, é realizada através de equipamentos voltados a eletro-cardiografia, capnografia (concentração de CO2), oximetria (saturação de O2 sanguíneo), ventilometria (dinâmica respiratória), pressão e perfusão intracraniana e pressão invasiva (Swan Ganz, dados hemodinâmicos). O suporte ventilatório é provido por ventiladores volumétricos microprocessados acoplados à monitorização contínua dos parâmetros ventilatórios.

PERFIL DO CURSO - A proposta do curso é de sua realização exclusivamente em Unidades de Terapia Intensiva e Semi-intensiva, sem vínculo de trabalho (a rotina da UTI é exercida por fisioterapeutas contratados). As discussões clínicas são realizadas à beira do leito, com participação diária de dois supervisores, as dras. Gisele Lima Francé e Solange Guisilini. O currículo, de acordo com o projeto aprovado pelo COFFITO, conta com carga horária de 1.768 horas, distribuídas em 1.190 horas práticas e 578 teóricas, em 13 meses. "Para estudo e acompanhamento clínico detalhado, a proporção máxima é de um aluno para dois leitos, o que permite a perspectiva de aprendizado amplo e conclusivo", garante o dr. Douglas Ferrari.

De acordo com o dr. Getúlio Ollé da Cruz, coordenador deste curso de especialização, o fisioterapeuta cumpre rotina de cinco horas diárias, em turmas nos períodos da manhã, tarde e noite, de segunda a sexta-feira. O curso inclui aulas teóricas aos sábados e plantão mensal de 12 horas (totalizando 156 horas) com cinco fisioterapeutas presentes ao lado da equipe contratada do hospital, além de 30 horas dedicadas a monografia. As turmas são de 12 a 13 alunos, em um total de 40 vagas. O corpo docente é formado por 30% de doutores, 30% de mestres e 40% de especialistas.

 

Após a visita ao leito com o supervisor ou o recebimento do plantão, os especializandos desenvolvem temas diários, seguindo a programação da coordenação. Com o prontuário do paciente em mãos, fazem, em formulário próprio, a admissão do paciente com sua história clínica e antecedentes, o exame físico geral e especial, a hipótese diagnóstica , a solicitação e/ou interpretação dos exames complementares e a prescrição fisioterapêutica. Em concordância com o fisioterapeuta plantonista e supervisor, passa a desenvolver a atividade, assegurada sua autonomia profissional. Nas visitas dos familiares às unidades, são orientados para que forneçam informações referentes à evolução do paciente, bem como sua resposta às intervenções administradas.

O aluno frequenta todos os setores do hospital, desde a hemodinâmica até a câmara hiperbárica e acompanha as cirurgias realizadas " . A participação direta do fisioterapeuta ocorre em procedimentos de maior complexidade administrados em UTI", complementa o dr. Douglas Ferrari, "tais corno a ventilação artificial, o atendimento de parada cardíaca, a intubação endotraqueal, bem como a monitorização da mecânica pulmonar. Os alunos também participam da rotina do pronto-socorro, em rodízio, com a permanência de dois alunos na escala de serviços, para atenderem ativamente no Pronto Atendimento do Hospital Santa Cruz. As avaliações são realizadas pelos docentes das disciplinas e pela coordenação e através de monografia obrigatória ao final do curso.

 

dr. Douglas Ferrari com especializandos, em discussão clínica

 

ATUAÇÃO COM AUTONOMIA - Segundo a dra. Solange Guisilini, uma das supervisoras do curso e docente dos cursos de Fisioterapia da Uniban S.Paulo, ABC e Osasco e vice-diretora do Departamento de Fisioterapia da Sociedade de Cardiologia do Estado de S. Paulo. " a atuação do fisioterapeuta em cuidado intensivo teve início na década de 70, mas ainda restrita a manobras de higiene e reexpansão pulmonar e de forma intermitente. Só a partir dos anos 80, com a evolução das pesquisas e da tecnologia frente ao paciente crítico é que o fisioterapeuta começou a marcar sua presença, com a administração da Fisioterapia Intensiva, incluindo manobras até o suporte ventilatório mecânico, invasivo e não invasivo. Isto fez com que o fisioterapeuta fosse buscar conhecimentos para atuar junto a equipe e daí a necessidade de criar cursos de especialização específicos. Com essa busca obteve autonomia, com o conhecimento clínico adquirido na equipe interdisciplinar" .

De acordo com o dr. Douglas Ferrari, "por exigência do COFFITO, para o recebimento da certificação e título de fisioterapeuta intensivista após a realização do curso, o aluno terá que fazer o módulo ACLS - Advanced Cardiologic Life Support, uma certificação da Associação de Cardiologia americana com validade mundial. Para isso temos incorporado em nossa equipe o dr. Silvio César Autilio, o primeiro fisioterapeuta instrutor de ACLS no Brasil. O fisioterapeuta termina o curso apto a atuar em UTls, pronto-socorros, remoções aéreas e terrestres" . Para o chefe da UTI do Hospital Santa Cruz este curso pode ser çaracterizado como um treinamento em serviço. "O MEC determinou que os profissionais, principalmente os de saúde, deveriam se especializar em unidades de serviço onde houvesse a estrutura de serviço e uma portaria outorgou aos hospitais, tanto públicos corno privados, o papel desta formação.

Temos no entanto que separar a formação acadêmica da profissionalizante. 0 reconhecimento é concedido por uma sociedade ou uma instituição (como é o caso do COFFITO) com valor de certificação profissional " .

O dr. Douglas Ferrari tem como projeto futuro levar este fisioterapeuta já especializado para uma formação de docência, mestrado e doutorado em Fisioterapia Intensiva e para isso pretende levar proposta neste sentido ao Ministério da Saúde e de Educação.