Douglas Ferrari

Editorial N0 7 / 2004

A UTI QUE PODEMOS TER .

 

Peço licença à você, mas senti profunda necessidade de mostrar aquilo que todo brasileiro vê, mas que muitos esquecem: somos país que ainda vive a probreza.

Esta necessidade de expor a nossa realidade, trata-se de ter percorrido muitas UTIs e Congressos brasileiros e não pude ver a discussão do nosso papel social, da democratização do atendimento UTI de qualidade e, parecendo a mim estar em outro país.

Longe de abandonar a ciência no seu mais profundo sentido e esperança, concordando com temáticas e exposições teóricas do ideal, mas francamente às vezes longe da realidade da nossa sociedade.

Se pensarmos na responsabilidade que as UTIs possuem tanto no sentido de prognóstico e custo para o Estado, o país está no aguardo da inovação, da não conivência com imposições financeiras em que medicações chegam a 35.000 Reais, equipamentos de 100.000 Reais enquanto vejo, porque sou médico, ser humano e presente, a miséria e a fome.

Tenho assistido profissionais em busca de equipamentos importados que ultrapassam o bom senso do custo-benefício, e tudo em nome da medicina do primeiro mundo, enquanto as estatísticas mostram o contrário: crianças que morrem de fome, sofrendo da maior das doenças, a pobreza e a miséria. Muitas esquecidas, incluindo essas que se alimentam de lixo.

A que devemos esta ausência e esquecimento ? Talvez o afastamento da realidade, a separação de classes, o ego, ou ignorância.

Não é este o país que devemos querer, não se pode ser feliz quando a sua felicidade não pode ser compartilhada. Nunca podemos esquecer que somos a testemunha da história, e nascemos com a nobre missão de estar e cuidar do próximo.

"Somos intensivistas porque entendemos que somos capazes de estarmos atuando nos momentos de maior angústia e sofrimento humano"

Crianças alimentam-se de lixo.