Tratamento com campo magnético tira homem de coma

16 de outubro de 2008 por Camila Guedes  
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Medicina & Saúde
 

O paciente que passou quase um ano em estado vegetativo apresentou melhoras significativas depois do tratamento.

De acordo com reportagem publicada pela revista científica New Scientist, Josh Villa, homem de 26 anos que a cerca de um ano sofreu um acidente de carro e que desde então se encontrava em estado vegetativo, apresentou melhoras em seu quadro depois de ser tratado com campo eletromagnético.

A técnica, chamada de Estimulação Transcranial Magnética, se utiliza de uma bobina metálica que emite pulsos eletromagnéticos na cabeça do paciente para excitar o tecido cerebral. Ela já vinha sendo usada para tratar pessoas com enxaquecas, que tiveram derrames, pacientes com mal de Parkinson e depressão. Entretanto, essa é a primeira vez que é usada em alguém em coma.

Josh Villa, que apesar de abrir os olhos não respondia a nenhum estímulo externo, começou a olhar para quem falava com ele depois de apenas 15 sessões de tratamento. O paciente passou por 30 sessões no total. Apesar de ter ficado muito cansado e seu quadro de melhora ter decaído um pouco, houve progressos significativos em seu estado geral. Villa consegue agora responder a comandos simples.

Entretanto, a eficácia do tratamento ainda não foi comprovada, pois pacientes em coma já sofreram melhoras semelhantes mesmo sem terem sido estimulados dessa forma. Apesar disso, A médica Theresa Pape, responsável pelo tratamento, afirma que os avanços do paciente aconteceram a cada sessão e por isso estavam relacionados.

Os campos magnéticos enviados pela bobina ao cérebro têm o poder de excitar ou inibir as células, o que pode fazer com que elas se comuniquem com maior facilidade ou com maior dificuldade.

O paciente descrito teve as células do córtex pré-frontal do lado direito do cérebro estimuladas. Essa área é ligada ao tronco cerebral, que manda sinais para o resto do corpo avisando que ele deve ficar em alerta.

 

 

ESTIMULAÇÃO MAGNÉTICA TRANSCRANIANA REPETITIVA EMTr

Fonte : TMS BRASIL
 
(Transcranial Magnetic Stimulation - TMS)

 
Estimulação Magnética Transcraniana Repetitiva EMTr

(Transcranial Magnetic Stimulation — rTMS)
 

DR. RONI BRODER COHEN
Universidade Federal de São Paulo/ Escola Paulista de Medicina
Formação em TMS pelo Laboratory of Magnetic Brain Stimulation da Harvard Medical School

 

O que é TMS?
A Estimulação Magnética Transcraniana (EMT ou TMS) é uma técnica neurofisiológica que permite a indução de uma corrente no cérebro usando um campo magnético que atravessa o couro cabeludo e crânio de maneira indolor. A EMT é aplicada colocando uma espiral metálica envolta em plástico (bobina) sobre a cabeça, emitindo pulsos magnéticos que induzem uma corrente elétrica na região cerebral focalizada.

Dependendo da freqüência utilizada os estímulos podem aumenta ou diminuir a atividade da área cerebral atingida e assim pode-se aplicar terapeuticamente modulando (equilibrando) o funcionamento neuronal de acordo com o problema apresentado. 

A TMS vem sendo usada há 15 anos para diversos fins principalmente em neurologia (investigação neurofuncional, estudo das funções cognitivas, diagnóstico da transmissão nervosa) e há 5 anos no campo da psiquiatria principalmente no tratamento dos quadros de depressão. 

Em virtude da facilidade do tratamento e dos resultados obtidos na depressão, equivalentes às demais modalidades mas com a vantagem de não apresentar efeitos colaterais, observou-se nos últimos anos a multiplicação de centros médicos e de pesquisa em estimulação magnética cerebral nos mais respeitados centros universitários ao redor do mundo.

 

Freqüência da estimulação 
A EMT consiste na emissão de pulsos simples a cada 5 a 10 segundos. A estimulação repetitiva (EMTr), mais comumente utilizada para fins terapêuticos, divide-se em dois tipos: EMTr de baixa freqüência e EMTr de alta freqüência. 

A freqüência é medida em Hertz (Hz= ciclos por segundo). Altas freqüências, acima de 1 Hz, também chamada de EMTr rápida, tem um efeito excitatório (aumentam a atividade, fluxo sanguineo e metabolismo cerebral). Baixas freqüências, igual ou menor a 1 Hz (no máximo 1 pulso a cada segundo), também chamada de EMTr lenta, produz um efeito inibitório. 

 

 

 
Como é feito o tratamento?
O paciente senta-se numa poltrona reclinável e recebe os estímulos durante aproximadamente 20 minutos, permanecendo acordado e sem necessidade de uso medicações. Há um ruído (estalido do tipo "click") associado com a passagem da corrente através da bobina, mas o efeito do campo magnético e da indução da corrente no cérebro não é doloroso.  Entretanto, algum desconforto pode ocorrer devido a contração dos músculos do couro cabeludo ou da ativação dos nervos próximos. 

O tempo de tratamento varia de acordo com a patologia (quadro clínico) e com os diversos centros mundiais. No caso da depressão, seguindo-se a orientação da Escola Médica de Harvard, são aplicadas 10 sessões (uma sessão por dia, durante 5 dias consecutivos, intervalo no final de semana, seguindo-se mais 5 sessões). 

A EMT é uma técnica segura e não provoca efeitos colaterais significantes desde que sejam seguidas as normas internacionais de segurança

 

Segurança 
A EMT é uma técnica segura e o uso de pulsos simples (com freqüência igual ou menor que 1 Hz) vem sendo utilizada há 15 anos para fins diagnósticos e terapêuticos evidenciando nos vários estudos específicos ser isenta de riscos e ter ótima tolerabilidade (veja tópico relacionado e referencias). 

A EMTr de baixa freqüência tem ótima tolerabilidade e o único efeito colateral significativo é cefaléia que ocorre em 3% dos casos (devido a contração dos músculos do couro cabeludo) a qual é tratada com analgésicos comuns. A indução de zumbidos ou diminuição transitória da audição pode ocorrer em 10% dos pacientes, mas esse risco é totalmente eliminado com o uso de tampões de ouvido.

A EMTr de alta freqüência, entretanto, devido a seu efeito estimulante, pode predispor à convulsão em indivíduos suscetíveis se aplicada fora das margens de segurança preconizadas. Antes de 1996 existe o relato de 6 casos de crises convulsivas, sem seqüelas clínicas tardias, induzidas pela EMTr rápida. Em função deste risco os pesquisadores dos diversos centros mundiais reuniram-se em Bethesda (EUA) e estabeleceram os limites de parâmetros de estimulação considerados seguros, tais como intensidade do pulso, freqüência utilizada, número de estímulos e tempo da sessão. Após a adoção destas regras internacionais não houve nenhum relato de crise induzida pela EMTr.