A direção da SEB (Sociedade Evangélica Beneficente), de Curitiba, mantenedora do Hospital Evangélico, informou, nesta segunda-feira (25), em entrevista coletiva, que vai pedir o afastamento da delegada Paula Christiane Brisola, titular do Nucrisa (Núcleo de Repressão aos Crimes Contra a Saúde), da Polícia Civil do Paraná, que investiga as denúncias contra a médica Virginia Soares de Souza, que foi presa na semana passada, pela suspeita nas mortes de pacientes pacientes da UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do hospital. O Evangélico também publicou, nesta segunda-feira, nos jornais da capital paranaense, uma "mensagem à comunidade" se posicionando sobre o caso."Entramos com uma representação contra a delagada por desrespeitar a lei e por quebrar o sigilo das investigações, que pelo Código Penal, devem correr em segredo de justiça", disse o advogado Glaucio Antônio Pereira, que representa o Hospital Evangélico.Segundo ele, o pedido será encaminhado para a Justiça e para a Secretaria de Estado de Segurança Pública do Paraná. "Está havendo uma 'espetacularização' do caso e a autoridade policial está cometendo abusos ao dar divulgação indevida a fatos que deveriam ser mantidos em sigilo", disse Pereira. "É constrangedora a condução do caso", afirmou.O advogado também disse que era importante destacar que o Hospital Evangélico não é parte na ação e que também não é investigado. Questionado se a direção do Evangélico defenderia o não esclarecimento do caso, ao pedir o afastamento da delegada e o respeito ao sigilo das investigações, Pereira disse que a instituição está preocupada em salvaguardar os direitos do corpo clínico do hospital e dos seus funcionários. "A divulgação dos fatos é ilegal e tem objetivo criar um clima de pânico social. É uma irresponsabilidade, temos que preservar a tranquilidade social."
O diretor técnico do Evangélico, o médico Luiz Felipe Natel Mendes, criticou
a ação da polícia e a divulgação do inquérito. "Está havendo abuso das
autoridades responsáveis pelo caso. Não entendo os motivos."Segundo Mendes,
um exemplo do abuso é a forma como foi feita a prisão da médica Virginia de
Souza. "O mandado tinha o endereço residencial da médica e era o local onde
deveria ter sido cumprido. Mas preferiram invadir um hospital com 30 pessoas
armadas e criar um clima de espatáculo", disse. Mendes disse que a
repercussão do caso pela mídia não respeita os direitos dos acusados e é
desproporcional e, segundo ele, manipulada pela autoridade policial. "Não
vejo o porquê de tanta energia naquela ação. Como não vejo o porquê de tanto
constrangimento com prisões que são desnecessárias", disse, referindo-se aos
três médicos e uma enfermeira que tiveram pedido de prisão feito pela
Justiça. "Temos ouvidoria, comissão de ética e nada consta contra os
médicos. Como não há nada no Conselho de Medicina (CRM-PR). Temos que
resguardar o direito das pessoas."
O diretor disse que toda essa situação coloca em risco o atendimento de todo
o Hospital Evangélico, que atende mais de 17 mil pessoas no ambulatório,
além de 23 mil atendimentos de emergência por mês."Querem colocar em pânico
o milhares de pacientes, os 400 médicos e mais de três mil funcionários. Um
hospital que tem prestadoi serviços relevantes há 53 anos e que atende os
mais carentes da população, pois 92% dos atendimentos são feitos pelo SUS",
disse. Mendes também informou que a UTI geral do Evangélico, que tem 14
leitos, funciona dentro das normas e que está dentro dos padrões da OMS e
Ministéria da Saúde."Nossa taxa de mortalidade é de 4,4% dentro do parâmetro
da OMS [Organização Mundial da Saúde], que é de até 10%. Nunca houve
qualquer irregularidade com relação à UTI." Mendes afirmou que desde sábado
(23) a UTI geral está desativada e que o Evangélico está contratando uma
nova equipe. "Queremos preservar o nossos profissionais que estão
constrangidos com toda essa situação", disse. Não há data para a reabertura
da UTI do Evangélico.
O UOL procurou a delegada Paula Brisola no Nucrisa, mas foi informado que ela não fala sobre o caso e nem iria comentar a decisão da direção do Hospital Evangélico. No sábado (23), a Justiça determinou a prisão de outros quatro envolvidos no caso, três médicos e uma enfermeira. Os médicos se apresentaram no final de semana e a enfermeira na tarde de hoje. Os quatro trabalhavam diretamente com a médica Virginia Soares de Souza, que foi indiciada por homicídio qualificado. O advogado da médica, Elias Mattar Assad, disse que vai tentar reverter a prisão e nega as acusações feitas contra a médica.