A programação do V Congresso de Emergência e Terapia Intensiva,
realizado no segundo dia da Hospitalar (22), contou com o tema
Humanização e trouxe para o palco o lado de quem recebe os
cuidados dos profissionais de saúde, em especial da área de
medicina intensiva.
Para narrar sua experiência, foram convidados Eliana Zagui, de
39 anos, há 38 na UTI do Hospital das Clínicas de São Paulo, e
Paulo Henrique Machado, de 43 anos, há 42 na mesma UTI. Ambos
representam as últimas vítimas do surto de paralisia infantil
que ocorreu no Brasil no início da década de 1970. O vírus da
poliomielite tirou os movimentos das pernas de Paulo e
comprometeu sua capacidade de respirar sozinho. Eliana só
consegue movimentar os olhos e a boca e também precisa de
auxílio para respirar. A iniciativa foi moderada pelo médico
intensivista e fundador da Sociedade Brasileira de Terapia
Intensiva (Sobrati), Douglas Ferrari.
Paulo contou parte de sua história e a forma como hoje vê a UTI.
“Apesar de estar na UTI fiz alguns passeios, quando criança
conheci o zoológico e o circo. Por conta da logística que
envolve minha saída da UTI os passeios são menos frequentes do
que gostaria, acredito que saí de lá cerca de 30, 40 vezes”.
Sobre a forma como vê a UTI, Paulo revela que tem receio de sair
de tal ambiente. “Vejo a UTI como uma fortaleza. Em tempos de
heróis nas telas de cinema, os heróis da vida real são os
profissionais intensivistas”, afirmou.
Eliana
Zagui, autora do livro Pulmão de Aço (onde conta a própria
história) publicado pela Belaletra Editora, optou por
compartilhar a experiência que envolveu a concretização deste
projeto. “Escrever o livro foi um trabalho de 10 anos com muita
pesquisa externa, mas também interna – emocional. Escrevo e
pinto meus quadros tudo com a boca”.
A
autora de Pulmão de Aço revela que durante o tempo que está na
UTI foi possível notar as mudanças na forma como são tratadas as
relações familiares. “Quando eu era pequena, as visitas eram
muito restritas o que me afastou da família. Hoje melhorou
muito, os horários são menos rígidos, o que contribui para a
manutenção e estreitamento deste contato”.
Segundo Eliana Zagui, nos hospitais é possível encontrar todo o
perfil de profissional. “Quando criança eu gostava daquelas
pessoas que eram mais amáveis e em um determinado período
chamava a todas de mãe”.
Quando o assunto é liberdade, Paulo faz questão de reforçar as
mudanças proporcionadas pela tecnologia. “A internet é a nossa
liberdade, com ela conquistamos amigos que quando vêm nos
visitar ficamos muito felizes”. Apesar das limitações de
locomoção, Paulo estudou e se formou. “Trabalho na área de
computação gráfica e pretendo continuar estudando”. Eliana e
Paulo foram aplaudidos de pé pelos congressistas.
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