Jheck
Brenner de Oliveira, O
MENINO JECK, 6 anos, vive em Franca-SP, "não fala", "não se move", "não se
alimenta", "não se comunica". Portador de doença degenerativa crônica,
permanece vivo em condições de total dependência. No sentimento aflito do
pai, surge a ambiguidade. No amor e no sentimento humano, surge a esperança
.
( " Se eu não te
amasse tanto assim, vivesse na escuridão... Ivete Sangalo )
Homenagem a JHECK e
sua família que acredita no céu, nas estrelas, no amor e no
criador ... (ouvir ):
>>
Meu
coração sem direção...Voando só por voar... Sem saber onde chegar...
Sonhando em te encontrar ... E as estrelas ... que hoje eu
descobri no seu olhar .... As estrelas vão me guiar ... Se eu não
te amasse tanto assim ... Talvez perdesse os sonhos ...
Dentro de mim e vivesse na escuridão .... Se eu não te amasse tanto
assim ... Talvez não visse flores por onde eu vi .... Dentro do meu
coração ... Hoje eu sei... eu te amei no vento de um temporal ... Mas
fui mais... muito além ... Do tempo do vendaval ... Nos desejos... Num
beijo que eu jamais provei igual ... E as estrelas dão um sinal ... Se
eu não te amasse tanto assim ... Talvez perdesse os sonhos ....
Dentro de mim e vivesse na escuridão .... Se eu não te amasse tanto
assim .... Talvez não visse flores por onde eu vi .... Dentro do meu
coração...
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Foto - Revista Isto É -
JHECK e seu Pai.
C R O N O L O G I A
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31/08/2005
Pai
vai pedir à Justiça a eutanásia do filho
MARCELO TOLEDO
da Folha de S.Paulo, em Ribeirão Preto
Alegando estar "cansado de sofrer" e após ter conhecimento de que o
quadro de saúde de seu filho de quatro anos é irreversível, o
recepcionista Jeson de Oliveira, 35, de Franca (interior de São Paulo),
afirmou que vai à Justiça pedir autorização para realizar eutanásia na
criança.
Internado há quatro meses no CTI (Centro de Terapia Intensiva) do
hospital Unimed, Jhéck Breener de Oliveira tem uma rara doença
degenerativa do sistema nervoso central, segundo o diretor clínico e
chefe do CTI infantil do hospital, Luís Fernando Peixe. Não há chance de
recuperação.
Para o pai, somente a eutanásia --prática proibida no país pela qual se
busca abreviar a vida de um doente incurável sem dor ou sofrimento--
resolverá a dor do filho. A mãe do menino, R.S.S. (ela não quer ter seu
nome revelado), 22, é contra. O caso foi revelado ontem pelo jornal
"Comércio da Franca".
O pai já tentou invadir duas vezes o CTI para desligar os aparelhos, mas
foi contido por seguranças do hospital. Agora, quer usar como argumento
para conseguir a autorização o caso da norte-americana Terri Schiavo,
41, que neste ano teve desligados os aparelhos que a mantinham viva,
após batalha judicial entre o marido dela e os pais.
"Ninguém sabe o que passo. É um sofrimento que não tem fim. Sei que a
eutanásia é proibida no Brasil, mas vou até o fim porque não agüento ver
meu filho sem sorrir, brincar ou caminhar", afirmou o pai, que não
visita o filho há três meses, por "não suportar vê-lo naquela situação".
A síndrome metabólica degenerativa paralisou o corpo da criança e, por
isso, há quatro meses ela não deixa o hospital, onde deve continuar até
o fim da vida.
O garoto, que completará cinco anos em 21 de setembro, é alimentado por
meio de sonda e respira com o auxílio de aparelhos. Jhéck não enxerga,
não fala e não movimenta o pescoço, as pernas ou os braços. O quadro é
irreversível, de acordo com o diretor do CTI.
Peixe explicou que a criança nasceu com deficiência de uma enzima, que
não deixa o cérebro funcionar corretamente. "Como falta a enzima, as
células vão enfraquecendo e degenerando. E a doença só se manifestou com
quase dois anos [de idade]. É uma doença rara."
"Não tenho mais fé em Deus nem forças para ver o meu filho. Não o visito
não é porque não quero, é porque não consigo vê-lo jogado numa cama de
hospital."
Segundo o advogado de Oliveira, Marcos Antônio Diniz, o pedido judicial
deve ser protocolado em no máximo 15 dias. "Precisamos só de um
documento do hospital de Franca e de um outro hospital." Para Oliveira,
se o marido de Terri Schiavo conseguiu o seu objetivo nos EUA, é
possível que ele consiga no Brasil.
Colaborou KATIUCIA MAGALHÃES, da Folha Ribeirão
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31/08/2005
Mãe acampa em hospital e luta pelo filho
KATIUCIA MAGALHÃES
enviada especial da Folha de S.Paulo a Franca
"Eu sou a favor da vida. Meu filho pode perder um braço, uma perna. Pode
ficar deformado. Eu nunca deixarei de estar ao lado dele", disse a
costureira R.S.S., 22, mãe de Jhéck Breener de Oliveira, que há quatro
meses vive no CTI (Centro de Terapia Intensiva) do hospital Unimed em
Franca.
A mãe disse que a discussão sobre a eutanásia foi um dos motivos que a
levaram a se separar do recepcionista Jeson de Oliveira, 35. Em
entrevista à Folha, ela afirmou não saber por que o ex-marido
quer desligar os aparelhos que mantêm o filho deles vivo.
"Não sei o que passa na cabeça dele. Só Deus para saber. No primeiro mês
que o Jhéck estava internado, ele [marido] veio aqui no hospital e
tentou desligar os aparelhos", disse. O hospital proibiu a entrada de
Oliveira no CTI.
R.S.S. afirma que Jhéck era um bebê normal até os nove meses, quando seu
desenvolvimento ficou mais lento. A conselho médico, a mãe levou o
menino à Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais). "Ele [Jhéck]
fez a triagem e começou a fazer várias atividades, como fisioterapia,
fonoaudiologia e ecoterapia."
O menino começou, então, a engatinhar, falar e, aos dois anos, andou
pela primeira vez. A mãe conta que, aos três anos, Jhéck teve as
primeiras convulsões, desmaios e uma parada cardiorrespiratória. No dia
27 de abril deste ano, a criança foi internada sem previsão de alta.
"Ele passou a ter insuficiência respiratória e teve de ser auxiliado por
aparelhos. Além disso, tem que se alimentar por meio de uma sonda. Eu
tenho muitos medicamentos e outros aparelhos em casa, mas não são
suficientes para manter o Jhéck. Com ele em casa, eu não dormia. Aqui,
eu sei que ele está sendo bem cuidado."
R.S.S. afirma que teve de lutar pelo tratamento de Jhéck sem ajuda do
marido. Após a separação, ela se mudou para uma casa de aluguel, cujo
valor é R$ 150. Atualmente, mãe e filho vivem com o auxílio de
desconhecidos e fiéis da Igreja Católica que a família de R.S.S.
freqüenta.
De acordo com ela, as doações pagam seu aluguel, sua comida e os
remédios do filho. "Até uma cadeira de rodas para ele eu consegui por
meio de doações", afirmou.
A mulher afirma temer a atitude do marido e disse estar surpresa com
suas declarações ao jornal "Comércio da Franca", que publicou ontem uma
reportagem sobre a vontade que Jeson tem de conseguir a eutanásia para o
filho. "Eu tenho medo. Meu filho é uma criança muito especial. Ele
[Oliveira], como pai, teria de dar apoio ao filho."
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01/09/2005
Pai recebe apelos contra eutanásia do filho
MARCELO TOLEDO
enviado especial da Folha de S.Paulo a Franca
Pelo menos 40 pessoas ofereceram ontem, pessoalmente e por telefone,
ajuda financeira e espiritual à família do garoto Jhéck Breener de
Oliveira, 4, que está internado há quatro meses no CTI (Centro de
Terapia Intensiva) do Hospital Unimed, em Franca (interior de São
Paulo), com uma doença degenerativa incurável.
O objetivo da maioria é convencer o pai do menino, o recepcionista Jeson
de Oliveira, 35, a desistir de tentar obter uma autorização judicial
para realizar a eutanásia no filho. A doença já fez com que o garoto
perdesse a fala e os movimentos do pescoço, das pernas e dos braços. Ele
também não enxerga e não se alimenta por via oral. O quadro é
irreversível, segundo os médicos.
A eutanásia, prática que consiste na abreviação de forma indolor da vida
de um paciente incurável , é proibida no Brasil.
Há pessoas também que oferecem informações de tratamento. É o caso do
engenheiro civil Luís Fernando Laves, 39, de São João da Boa Vista (SP).
Ele ligou ontem para jornais e para o hospital de Franca a fim de
informar que há um centro especializado em doenças degenerativas em San
Diego, nos Estados Unidos.
"Fiquei emocionado ao ler a reportagem. Procurei na internet e achei o
centro de San Diego, que tem pesquisas importantes."
A maior parte das pessoas se revoltou com a idéia de eutanásia. Grupos
religiosos e até mesmo o bispo de Franca, dom Diógenes Silva Matthes,
iniciaram uma "pressão" para que o recepcionista desista de tentar obter
a autorização judicial.
Segundo o bispo de Franca, que ontem tentou um encontro com a família
--não concretizado porque o pai viajou--, a postura de Oliveira está
errada. "Quero demovê-lo dessa idéia. A mãe não quer [a eutanásia]. E
que direito ele tem de matar o próprio filho?"
Mas não é só na Igreja Católica que a decisão de Oliveira encontra
oposição. O pastor Jonatas Barbosa Rodrigues, da Igreja Presbiteriana
Filadélfia de Franca, disse que a posição da igreja é "contrária à
eutanásia de forma radical". "Quero conversar com o pai e tirar isso da
cabeça dele", afirmou.
Assustada, R.S.S., 22, mãe de Jhéck, não foi ontem ao hospital para
passar o dia com o filho, como faz diariamente. Ela deixou o emprego de
costureira porque não sabe quando tempo a criança viverá e quer ficar
com ela o máximo possível. R.S.S. não quer ter seu nome divulgado.
Para o pai, que se afastou do emprego em uma fábrica de calçados, nem
mesmo a união de representantes religiosos contra a idéia o fará mudar
de opinião.
"Minha vida acabou. Estou quase para dar um tiro na cabeça. Não creio
mais em Deus. Mesmo assim, oro todas as noites pedindo que Deus devolva
a vida de meu filho ou o leve embora", disse Oliveira, que afirma não
suportar mais ver a dor do filho.
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02/09/2005
Médico defende fim do tratamento de Jhéck
da
Folha de S.Paulo, em Ribeirão Preto
O médico Marco Aurélio Guimarães, 35, diretor do Centro de Medicina
Legal e docente de bioética da Faculdade de Medicina da USP de
Ribeirão Preto, defendeu o direito de o recepcionista Jeson de
Oliveira, de 35 anos, pleitear judicialmente a morte do filho Jhéck
Breener de Oliveira, 4.
De acordo com o especialista, o pai não quer o homicídio do filho, mas
o término do sofrimento da criança. "A suspensão do esforço
terapêutico é uma situação que não vejo com ressalvas. Se é a vontade
de Deus que ele viva, ele viverá. Se não for a vontade de Deus, ele
não viverá. Se ele morrer, essa não terá sido a vontade divina?",
questionou o médico.
Jhéck, internado há quatro meses no CTI (Centro de Terapia Intensiva)
do hospital Unimed, em Franca (SP), sofre de uma doença degenerativa
do sistema nervoso central que já fez com que ele perdesse a visão, a
fala e os movimentos do pescoço, dos braços e das pernas. Ele apenas
se alimenta por meio de sondas e respira com o auxílio de aparelhos.
O médico e professor da USP afirmou, no entanto, ser contrário à
eutanásia --que, para ele, se configura homicídio.
O infectologista Caio Rosenthal já defendeu a ortotanásia --o ato de
cessar a utilização de recursos que prolonguem artificialmente a vida
quando não há mais chances de recuperação.
Para o especialista do HC, como há impasse no pátrio poder sobre a
decisão a ser tomada --o pai quer a eutanásia, mas a mãe, não--, o
caminho judicial é a alternativa que resta a Oliveira. "Nenhuma
religião tem o direito de impor suas condutas a quem quer que seja, já
que o Brasil é um país livre. Não se trata de o pai querer o
homicídio, mas o curso natural da vida biológica do filho. A suspensão
do esforço terapêutico é uma saída."
Ele disse esperar coerência da Justiça. "Em uma análise fria, ele até
ocupa o espaço de outros pacientes que podem ser recuperados. Não se
trata de crueldade, mas de uma visão fria. Não podemos ser arrogantes
e achar que a ciência pode tudo hoje, porque isso é brigar com o
inevitável."
O presidente do Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de
São Paulo), Isac Jorge Filho, disse à Folha também ser totalmente
contrário à eutanásia, prática proibida pela legislação brasileira
pela qual se busca abreviar a vida de um doente incurável, sem dor ou
sofrimento. Oliveira reafirmou ontem que só a eutanásia cessará a dor
do filho.
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3/09/2005
Mãe de garoto afirma que perdoa ex-marido que defende
eutanásia
MARCELO TOLEDO
Enviado da Folha a Franca
A costureira desempregada R.S.S., 22, mãe de Jhéck Breener de Oliveira,
4, disse que perdoa o seu ex-marido, o recepcionista Jeson de Oliveira,
35, pelo fato de ele querer autorização judicial para realizar a
eutanásia no filho, cujo quadro clínico é irreversível.
R. afirmou também que a perda do pai há 12 dias --que morreu de mal de
Chagas --a levou a juntar mais forças para lutar pela vida de seu filho.
Dizendo-se crente na possibilidade de um milagre salvar a vida de Jhéck,
R. afirmou ainda que seu coração lhe diz que ela tem de ficar ao lado do
filho, apesar da resistência do ex-marido. "Eu quero o Jhéck feliz, do
meu lado. Perdôo o pai dele pelo o que está fazendo. As pessoas têm todo
o direito de errar, mas podem corrigir os erros", disse a costureira.
De acordo com R., no dia da morte de seu pai, João Alves de Souza, ela
só pôde permanecer com o filho dez minutos no hospital, tempo que
considerou suficiente para perceber que precisaria continuar lutando
pela vida do filho. "Senti que não podia desistir de lutar, porque ele
precisa de mim", afirmou.
Jhéck está internado há quatro meses no CTI (Centro de Terapia
Intensiva) do hospital Unimed por causa de uma doença metabólica
degenerativa do sistema nervoso central, responsável pela perda dos
movimentos dos braços, pernas e pescoço, além da fala e da visão. O
quadro é irreversível, segundo o hospital, que fez o diagnóstico em
conjunto com o HC (Hospital das Clínicas) de Ribeirão Preto (cidade a
314 km da capital paulista).
Apoio externo
A dona-de-casa Maria Aparecida dos Santos de Souza, mãe de R., disse
considerar inadmissível que o ex-genro queira autorização para realizar
a eutanásia no neto. "Não é possível que um pai queira a morte do
filho."
Oliveira disse ontem que não está preocupado com o que a ex-mulher e a
família dela pensam. "Só me preocupo com a situação do meu filho, que
para mim não está mais vivo naquela cama de hospital. Não desisti [de
tentar a eutanásia] e não desistirei", disse ele, que já teve três
boletins de ocorrência registrados na Polícia Civil de Franca por
constrangimento ilegal e ameaça de agressão contra a ex-mulher.
Maria Aparecida afirmou que a filha está passando por dificuldades
financeiras por ter deixado o emprego para cuidar do neto. A comoção
causada pelo caso fez com que o hospital recebesse, nos últimos três
dias, uma série de doações para serem encaminhadas à mãe de Jhéck: R$
200 em dinheiro, dez pacotes de fralda, cinco cestas básicas e pelo
menos 20 revistas religiosas, além de terços, flores e cartas.
"As pessoas que telefonam dizem que estão orando e pedem que o pai não
prossiga com isso", afirmou Raquel Palma, coordenadora da área de
atendimento do hospital.
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05/09/2005
Mãe de
Jhéck sai do anonimato e diz que espera levar o filho para casa
FABRÍCIO FREIRE GOMES
enviado especial da Folha de S.Paulo a Franca
A costureira Rosemara dos Santos Souza, 22, saiu do anonimato anteontem,
em entrevista na qual autorizou a divulgação de fotos suas e de seu
nome.
Ela pedia que o seu nome fosse preservado desde o dia 30, quando o
recepcionista Jeson de Oliveira, 35, pai de Jhéck Breener de Oliveira,
4, disse que iria à Justiça pedir a eutanásia do filho --o casal está
separado.
Jhéck, internado no CTI (Centro de Terapia Intensiva) do Hospital
Unimed, de Franca, sofre de doença degenerativa irreversível. Ela disse
que tem esperança de levar o filho para casa. "Quero ver se compro o
aparelho respirador."
Para o diretor clínico do hospital, Luís Fernando Peixe, o estado de
Jhéck é estável, mas isso não significa que ele possa ir para casa. "É
preciso ter pessoas especializadas acompanhando 24 horas por dia. No
hospital, se acabar a energia, tem um gerador."
Souza disse ter ficado apavorada ao saber da doença de Jhéck. "Peço
desculpas a Deus e ao meu filho por ter entrado em pânico, mas vou até o
fim."
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06/09/2005
Família do pai de Jhéck é contra a eutanásia
MARCELO
TOLEDO
da Folha de S.Paulo, em Ribeirão Preto
A intenção do recepcionista Jeson de Oliveira, 35, de buscar autorização
judicial para realizar a eutanásia no filho Jhéck Breener de Oliveira, 4,
não encontrou respaldo em sua família. Um dos irmãos quer, inclusive, que
ele seja internado para fazer tratamento, pois estaria "desesperado".
De acordo com Erlan Soares de Oliveira, 34, irmão de Jeson, a família não
está ao lado do pai de Jhéck porque tem formação católica e acredita que a
eutanásia não é a melhor medida para a criança. "Acredito que ele está
agindo movido pelo desespero. Somos contra a decisão dele e ficamos até meio
constrangidos com isso, porque ninguém está apoiando o Jeson", afirmou Erlan.
De acordo com ele, o irmão está desesperado por não ter condições de ver o
filho na situação em que está. Vítima de uma doença degenerativa do sistema
nervoso central, Jhéck apresenta um quadro de saúde irreversível.
Internado há quatro meses de forma ininterrupta no CTI (Centro de Terapia
Intensiva) Infantil do hospital Unimed de Franca, ele já perdeu os
movimentos dos braços, das pernas e do pescoço, não fala, não enxerga,
utiliza uma sonda para ser alimentado e respira com o auxílio de aparelhos.
"O Jeson está muito abalado e precisa de ajuda. Estamos tentando convencê-lo
a procurar uma internação, porque está desorientado. Queria que ele
desistisse e cuidasse da sua cabeça. Também quero o melhor para o meu irmão,
que foi se afastando da família conforme a criança ficava doente", disse
Erlan, que dos nove irmãos é o que tem maior ligação com o pai de Jhéck.
Jeson, por sua vez, disse que não tem ligação com a família e sabia que
lutaria "contra o mundo". "Minha família não passa o que eu passo", afirmou.
Ontem, o pai de Jhéck disse à reportagem da Folha que já possui os
documentos necessários para entrar na Justiça e pedir autorização para
realizar a eutanásia no filho. São dois laudos, de hospitais de Ribeirão e
São Paulo, segundo seu advogado, Marcos Antonio Diniz, que ontem à noite
discutiria a estratégia com seu cliente.
Como a família de Jeson mora em Ribeirão Preto, o pedido pode ser
protocolado na cidade --a intenção é evitar que a comoção causada pelo caso
em Franca possa envolver o Judiciário.
Para fugir do assédio da imprensa e dos pedidos para que desista da ação
judicial que enfrentava diariamente nas ruas de Franca, o pai de Jhéck disse
que passou o final de semana em um sítio com amigos em Minas Gerais.
Doações
A família de Rosemara dos Santos Souza, 22, mãe de Jhéck, recebeu anteontem,
em um programa de TV, uma ajuda de R$ 20 mil.
Segundo Rosemara, o dinheiro servirá para a compra de equipamentos
necessários para levar Jhéck para casa --o custo é de R$ 40 mil a R$ 60 mil.
O pai do menino, disse ser contra as doações. "Não concordo. Queria que
alguém fiscalizasse o uso do dinheiro", afirmo.
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07/09/2005
Pai desiste de pedir a eutanásia do filho
MARCELO
TOLEDO
da Folha de S. Paulo
O recepcionista Jeson de Oliveira, 35, recuou e anunciou na tarde desta
terça-feira que desistiu de tentar obter autorização judicial para realizar
a eutanásia no filho Jhéck Breener de Oliveira, 4.
Jhéck sofre de uma doença degenerativa do sistema nervoso central cujo
quadro clínico, irreversível, já causou a perda dos movimentos dos braços,
das pernas e do pescoço, da fala e da visão. Ele está internado há quatro
meses no CTI (Centro de Terapia Intensiva) infantil do hospital Unimed de
Franca (SP), só se alimenta por meio de sonda e respira com a ajuda de
aparelhos.
O anúncio foi feito durante uma entrevista convocada por Oliveira e seu
advogado, Marcos Antonio Diniz, para falar sobre a estratégia que seria
usada no pedido à Justiça, que seria protocolado ontem.
Oliveira, que está licenciado do trabalho, interrompeu a fala de Diniz no
momento em que o advogado iria anunciar a ação cabível no caso e pediu para
se reunir com ele em uma sala ao lado.
Cinco minutos depois, ele voltou e afirmou, com uma carta na mão, que estava
desistindo da sua intenção, anunciada no último dia 29, para dar chances a
sua ex-mulher e mãe de Jhéck, Rosemara dos Santos Souza, 22, que é contra a
eutanásia. "Estou desistindo oficial e definitivamente. Quero dar chances à
mãe e estou entregando meu filho a Deus", afirmou ele.
Em seguida, Oliveira deixou a sala correndo, sem dar entrevistas, esquecendo
os óculos e deixando o advogado com os jornalistas. Foi o advogado quem
revelou o teor da carta que teria provocado a desistência de Oliveira. "Era
uma carta escrita pela Rosemara, como se fosse do Jhéck para o Jeson,
pedindo desculpas por ter ficado doente e, com isso, ter separado os pais.
Tinha, também, uma espécie de declaração de amor dela para ele", afirmou.
Rosemara negou ter escrito a carta.
Decisão inesperada
"É inesperada essa decisão. Trabalhei hoje [terça-feira] até de madrugada e
ele chegou a pagar um terço do valor combinado comigo. Não esperava nada
disso", afirmou Diniz.
Antes de anunciar que tinha desistido de seu pedido, o recepcionista atacou
a Justiça do país --por não autorizar a prática da eutanásia--, parte da
imprensa e a sociedade da cidade de Franca, que o criticaram.
Sobraram críticas também para a família de Rosemara. "Exceto ela, os outros
não se preocupam com a dor do meu filho e utilizam a doença do Jhéck para
pedir dinheiro", afirmou ele. Até agora, cerca de R$ 21 mil foram obtidos
com doações de todo o país para ajudar no tratamento.
O advogado disse que seu cliente não estava desequilibrado quando propôs a
morte do filho por eutanásia. "Ele deve ter se arrependido. Em nenhum
momento --e passamos parte da madrugada juntos-- ele esboçou que iria
recuar", disse.
Ainda de acordo com o advogado, a defesa da eutanásia na Justiça iria se
basear no conceito de vida. "Valeria a pena viver com aparelhos assim?
Queríamos uma definição do conceito de vida. Ele está ou não vivo? Essa era
a tese", afirmou Diniz.
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