Bactérias proliferam mais no verão, conclui pesquisa

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08/12/2008 - 13h44
CLÁUDIA COLLUCCI
da Folha de S.Paulo

Assim como os vírus da gripe e dos resfriados se espalham mais facilmente no inverno, um novo estudo norte-americano sugere que o verão pode ser a estação preferida de bactérias que causam infecções hospitalares. É o primeiro trabalho científico relevante que estabelece essa relação, segundo os infectologistas.

Pesquisadores da Universidade do Oregon (EUA) e do Instituto de Pesquisa do Hospital Sick Children (Canadá) descobriram que uma série de infecções provocadas pelas bactérias gram-negativas --que são as principais envolvidas em infecções urinárias e gastrointestinais, por exemplo-- apresentam picos durante o verão.

A pesquisa, publicada no periódico "Infection Control and Hospital Epidemiology", foi baseada em sete anos de investigações em um hospital de Baltimore. Os resultados indicam que o número de pacientes afetados por bactérias como a Pseudomonas aeruginosa, a Escherichia coli, a Enterobacter cloacae, e a Acinetobacter baumannii pode subir até 17% a cada dez graus de elevação da temperatura. Em conseqüência disso, a incidência de doenças causadas por esses microrganismos pode ser 46% maior no verão do que no inverno, apontaram os pesquisadores.

Embora as razões do aumento sejam diferentes para cada microrganismo e não estejam ainda bem estudadas, a variação sazonal passa a ser um dado importante no diagnóstico e na adoção de medidas preventivas contra infecções hospitalares, avalia Jessina McGregor, professora-assistente na Universidade de Oregon e uma das autoras do estudo.

"Todo mundo sabe que existe uma sazonalidade para certas infecções virais, como as provocadas pelo influenza, mas agora nós descobrimos que algumas das infecções bacterianas têm seu pico no verão."

Para a infectologista Maria Claudia Stockler, do hospital São Luiz, o estudo é ainda preliminar, mas, se outros trabalhos vierem a comprovar essa relação, novas atitudes poderão ser acrescentadas ao rol de medidas já adotadas para a prevenção da infecção hospitalar, como uma diminuição da temperatura da UTI.

Stockler explica que as bactérias gram-negativas estão na natureza (na terra, na areia e na água, por exemplo), mas só acometem o homem dentro do ambiente hospitalar. "Em geral, quando o indivíduo está com baixa imunidade, é idoso, está com um tubo, com uma úlcera de pressão [escaras]", exemplifica a médica.

Segundo o infectologista Max Igor Banks Ferreira Lopes, do Hospital das Clínicas de São Paulo, outros trabalhos menores já tentaram associar o clima a uma maior ou menor incidência de bactérias. "Mas só se conseguia estabelecer relações entre as infecções virais, principalmente gripe, e algumas pneumonias durante o inverno. Por isso, esse novo trabalho é bem interessante."

As hipóteses --nenhuma pode ser comprovada-- apontadas pelos pesquisadores para explicar o aumento dessas bactérias no verão são as mais variadas. No caso da Pseudomonas, por exemplo, micróbio que costuma estar presente na água, a razão seria o fato de as pessoas freqüentarem mais piscinas no verão, o que poderia aumentar a colonização da bactéria no organismo e facilitar a infecção por ela.

Já a Escherichia coli, uma bactéria intestinal muito associada às infecções urinárias, seria mais incidente no verão porque as pessoas teriam mais relações sexuais nessa estação, segundo os pesquisadores.