Pacientes morrem na fila Diária de Natal - Dez/2008
Dois pacientes em coma que
foram internados de maneira improvisada no setor de politrauma do Hospital
Walfredo Gurgel morreram, na manhã da última segunda-feira, antes de conseguir
uma vaga na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). A informação foi revelada pelo
cirurgião Salomão Gurgel Diniz e confirmada pela assessoria de imprensa da
unidade. Os nomes dos pacientes não foram divulgados pela direção.
Embora não tivesse informação sobre a causa das mortes, Diniz disse que os
pacientes teriam um tratamento mais adequado se estivessem na UTI. ‘‘Com certeza
estariam sendo melhor tratados’’, afirmou o médico. Segundo ele, um terceiro
paciente que estava em coma no politrauma foi transferido para a UTI. Um dos que
morreram, informou, chegou em estado grave numa ambulância do SAMU.
O presidente do Sindicato dos Médicos do Rio Grande do Norte (Sindmed), Geraldo
Ferreira Filho, explicou que o politrauma é um setor exclusivo para dar o
primeiro atendimento ao paciente. ‘‘Não é para ficar internado lá’’, disse ele,
que na semana passada constatou a superlotação dos leitos de UTI durante uma
visita à unidade. ‘‘Estão improvisando UTI no politrauma.’’
Para Geraldo Ferreira, a morte de pacientes no politrauma e o internamento
improvisados em outros setores são um reflexo do caos na unidade. ‘‘Estou que
acompanhando um paciente que deu entrada na sexta-feira com AVC isquemico, mas
foi internado na observação clínica em vez de ir para a UTI. Ele está em estado
gravíssimo, com insufiência respiratória e não tem vaga’’, disse.
Além da superlotação, o Walfredo Gurgel ainda sofre com o problema de
desabastecimento de materiais. Testemunha disso é o autônomo Antônio Cândido
Pereira, que está com o pai de 79 anos internado há um mês. ‘‘Terça-feira não
tinha nem álcool para o enfermeiro aplicar a injeção nele, contou. Ele disse que
também faltam lençóis, fralda e remédios.
PROTESTO
Em greve há 34 dias, o servidores da saúde voltaram a prmomover um ato público
em frente ao pronto-socorro Clóvis Sarinho na manhã de ontem. Eles ainda
aguardam a resposta do governo sobre as negociações. A categoria iniciou a
paralisação pedindo um reajuste de 23%. Como o governo não concordou, eles
pediram a promoção de dois níveis, o equivalente a 6%, mais três meses atrasados
em 2006. O governo ainda não se manifestou.
VIKTOR VIDAL
da equipe do Diário de Natal
Diretor do Walfredo minimiza lotação
Um dia após
barrar a entrada da imprensa no Hospital Walfredo Gurgel com o argumento de que
os jornalistas iriam ‘‘tumultuar’’ o local, o diretor da unidade, José Renato
Brito Machado, liberou ontem o acesso e revelou aos profissionais de jornal e
televisão tudo o que foi denunciado por sindicalistas durante uma manifestação
na última quarta-feira.
Acompanhados do presidente do Sindicato dos Médicos, Geraldo Ferreira Filho, e
da coordenadora do Sindicato dos Servidores em Saúde, Sônia Godeiro, os
jornalistas presenciaram os corredores repletos de macas e os pacientes
reclamando do atendimento. Sem leitos suficientes, o hospital está acomodando
pacientes de UTI em locais impróprios como a sala de reanimação.
Internado há 24 horas com as pernas paralisadas, o aposentado Antônio Alves da
Silva, 63 anos, era um dos que formavam a fileira de macas no corredor principal
do pronto socorro Clóvis Sarinho. Ele contou que foi atendido por um clínico
geral no momento em que deu entrada na unidade, mas que até então não havia
recebido qualquer diagnóstico sobre a o problema que o acometia.
‘‘Estou há 24 horas nessa posição e não sei o que aconteceu comigo’’, falou o
aposentado, que estava acompanhado da esposa. Ela também reclamou da falta de
condições do hospital. ‘‘Não tem uma cadeira para sentar e os banheiros estão
quebrados’’, disse. O presidente do Sindmed verificou que aquele paciente
precisaria de um neurologista.
Uma das situações mais precárias constatadas pelos visitantes foi a sala de
reanimação. Segundo Geraldo Ferreira, o local estava funcionando como sala de
UTI, mas não oferecia as condições necessárias para isso. ‘‘Tem doze pacientes
graves utilizando respirador, mas não tem a assistência médica necessária para
cuidar deles. A sala é de reanimação, o paciente não deve passar muito tempo
lá.’’
Na UTI Geral do hospital, a situação também é grave. Três dos nove leitos estão
desativados por falta de manutenção. A intensivista que estava de plantão, Maria
Helena Cantídio, revelou que faltam medicamentos para diminuir a pressão e
sedativos. ‘‘Isso, no mínimo, causa um desconforto ao paciente’’, explicou.
Segundo ela, o problema começou há cerca de dois meses.
Ao lado da UTI Geral, o Centro de Recuperação de Operados (CRO) também fazia o
papel de UTI. Segundo Geraldo Ferreira Filho, pelo menos quatro pacientes
internados lá aguardavam uma vaga na UTI. ‘‘O CRO virou uma UTI, mas sem médico
intensivista’’, comentou o presidente do Sindmed.
A superlotação atinge também os corredores das enfermarias do Walfredo Gurgel,
prédio vizinho ao complexo do Clóvis Sarinho. Com roupas íntimas, a aposentada
Rita Soares da Silva, 61 anos, aguardava uma cirurgia. Diabética, ela corre o
risco de perder um pé. ‘‘Ficar no quarto é melhor, mas não teve jeito ainda’’,
lamentou a paciente, que passou o primeiro dia internada no corredor do Clóvis
Sarinho.