Curitiba ganha centro inovador especializado em cardiologia pediátrica

Unidade do Hospital Cardiológico Costantini tem como grande inovação o atendimento integrado da gestante e do feto ainda no útero materno

  Redação Bem Paraná 

 

Unidade do Hospital Cardiológico Costantini tem como grande inovação o atendimento integrado da gestante e do feto ainda no útero materno. Crianças terão atendimento de cardiopatias congênitas no mesmo centro até a idade adulta

Curitiba está em contagem regressiva para a inauguração de um novo espaço que pode mudar a vida de milhares de crianças portadoras de doença cardiovascular. Na próxima quinta-feira, (4/12), o Hospital Cardiológico Costantini conclui a primeira etapa do projeto de cardiopediatria, que vai ocupar um andar inteiro do hospital. Até então, o atendimento pediátrico era realizado em pequena escala, mas em função da crescente demanda por tratamento especializado na cidade a direção do hospital decidiu investir na especialidade.

O centro de excelência terá como grande inovação o atendimento integrado da gestante e do feto, ainda no útero materno. Mãe e filho recebem o tratamento antes, durante e depois do parto. A estrutura possibilitará também a continuidade do atendimento de pacientes portadores de cardiopatias congênitas até a idade adulta.

O projeto do cardiologista Costantino Costantini tem cunho social e sua premissa é oferecer medicina de ponta também para crianças carentes. Para tanto, os recursos arrecadados na cardiopediatria serão empregados para o atendimento destes pacientes. Além disso, parte da estrutura física será entregue à administração e uso da Fundação Francisco Costantini, entidade sem fins lucrativos, que será responsável pelo trabalho filantrópico. Segundo Costantini, a iniciativa atende três das oito metas do milênio, aprovadas por dirigentes de 191 países membros da ONU na Cúpula do Milênio, realizada em 2000: a redução da mortalidade infantil, a melhoria da saúde da gestante e todos trabalhando pelo desenvolvimento.

Houve um cuidado especial para a formação da equipe clínica, que será comandada por um dos mais reconhecidos cardiologistas pediátricos do país, Doutor Nelson Itiro Miyague. Ele é especialista em cardiologia fetal e perinatologia pela Georgetown University Medical Center, nos Estados Unidos, e em ecocardiografia, pelo National Cardiovascular Center, em Osaka, no Japão. Em Curitiba era responsável por uma equipe de cardiologia pediátrica com mais de 10 mil atendimentos por ano. Graças a este trabalho, o Paraná figura na segunda colocação do ranking nacional em cirurgia cardíaca pediátrica.

Meta é vencer os números

O entusiasmo e o fato de poder contar com estrutura e corpo clínico de qualidade não atenuam a complexidade do desafio que é reduzir a mortalidade, principalmente nos primeiros dias de vida. Hoje, no Brasil, não há estatísticas oficiais sobre nascidos vivos com problemas cardiovasculares, mas estima-se que o País siga a mesma proporção dos índices mundiais. A cada mil nascidos vivos no mundo, de 8 a 10 têm algum tipo de cardiopatia congênita. Destes, 35% precisam de cirurgia no primeiro mês de vida. Se não forem tratados, 50% morrem em até 30 dias. Os demais não conseguem sobreviver até completarem o primeiro ano.

De acordo com o último balanço do Ministério da Saúde, de 2004, o número de nascimentos no ano foi de pouco mais de três milhões e trinta mil bebês. Destes, de 24 a 30 mil podem ter alguma implicação cardíaca. Nos registros da Secretaria Municipal de Saúde, em Curitiba o número de nascimentos é de aproximadamente 24 mil bebês ao ano. Cerca de 200 já possuem algum tipo de cardiopatia congênita. Em 77 deles, as situações são complexas. “A Secretaria estima que a doença congênita é hoje a segunda causa de óbito na capital paranaense. Mais de 50% desses casos referem-se a problemas cardiovasculares”, explica Miyague.

Segundo o médico, a prematuridade, e suas limitações, como a baixa imunidade, é um agravante. A maioria dos bebês com doenças graves no coração perde a vida até o sétimo dia após o nascimento. Por isso o projeto da cardiopediatria é desafiador e se torna um alento para milhares de curitibanas, que poderão contar com a inovação da cardiologia fetal - em que a criança pode ser submetida a exames cardiológicos para diagnóstico precoce das condições do coração ainda dentro do útero materno. A especialidade é capaz de diagnosticar e até iniciar o tratamento quando o bebê ainda está no ventre materno.

Em projeto da Secretaria Municipal de Saúde são encaminhadas para ecocardiografia fetal aproximadamente 3 mil gestantes por ano.  Neste ultimo ano foi observada alguma anormalidade cardíaca em 8% dos casos. “Toda gestante deveria se submeter a pelo menos uma ecocardiografia fetal. Hoje, a maioria das clínicas particulares só oferece o exame que avalia o desenvolvimento do bebê, sem identificar outros tipos de patologias sérias”, afirma o médico.

A possibilidade de contar com estes cuidados no setor de cardiopediatria num hospital especializado, em Curitiba, pode colocar o Paraná entre os estados com melhor tratamento fetal. Atualmente, segundo o cardiologista, o Rio Grande do Sul é o estado mais avançado no assunto, onde a cultura da realização deste exame por recomendação dos obstetras é mais disseminada. Fora do Brasil, alguns estados norte-americanos adotam a prática como obrigatória para gestantes. Na França, Inglaterra e Japão, o exame é rotina no tratamento pré-natal.

Estrutura da cardiopediatria

O complexo da cardiopediatria tem 1.130 metros quadrados de área exclusiva para o atendimento infantil. Um andar inteiro que, nesta primeira fase, contará com setor ambulatorial (consultórios), serviço de ecocardiografia e eletrocardiografia. Futuramente o espaço contará com toda estrutura de internamento e UTI.

O projeto de execução da obra é do engenheiro Ney Benghi e o arquitetônico é assinado pelo engenheiro biomédico Norton Mello. De acordo com Mello, a idéia foi levar conceitos inovadores que humanizam o atendimento no hospital. “Nossa inspiração veio do Hospital for Sick Children, de Toronto, no Canadá, uma das mais conceituadas instituições médicas do mundo na área pediátrica”, conta.

Segundo ele, o projeto contempla a funcionalidade aliada à prevenção e a áreas lúdicas que minimizam o impacto de estar fora de casa. O espaço em nível, sem rampas, prioriza a luz natural, com janelas panorâmicas em alumínio e ambientes amplos, projetados em materiais que facilitam a limpeza, reduzem os riscos de contaminação e o consumo de energia.

Os pisos são revestidos de porcelanato, na recepção, e manta vinílica, de alto tráfego, que não necessita de rejunte e não acumula resíduos. Além disso, são anti-derrapantes e resistem melhor aos efeitos dos produtos de limpeza do que os revestimentos tradicionais. Na UTI, que funcionará na segunda fase, o projeto inovou no sistema de ar condicionado. Será adotado o sistema Hepa-Filtro, mais eficiente que os tradicionais por não permitir que partículas contaminantes entrem no ambiente, oferecendo mais segurança aos pacientes.

Um cuidado especial foi destinado à disposição de mobiliário, sem barreiras físicas, de forma que os profissionais de atendimento possam visualizar todos os leitos do posto de atendimento e tenham espaço suficiente para circular. Na distribuição das unidades de UTI, internamento e ambulatório foi utilizado o conceito que preserva cada um dos setores para que os fluxos de pessoas sejam separados e não se cruzem. Estas medidas ajudam a manter o ambiente mais seguro e tranqüilo para as crianças.

A novidade que deve fazer a alegria delas, aliás, foi caprichosamente elaborado. A cardiopediatria terá uma brinquedoteca, área destinada ao lazer, diversão e conforto, com decoração lúdica inspirada em uma família de personagens infantis que, de alguma forma, têm ligação com a medicina e a cardiologia: Chiquinho, Myiaguito, Arterinha (enfermeira), Costinha (médico), Tum Tum (bebê), Átrio (cachorro) e Mamãe Saúde vão trazer mais alegria ao cotidiano dos pequenos pacientes.